eu sabia q só poderia entrar aq por um túnel

Ramona é uma aparição fazedora e desfazedora de feitiços.

Em 2021 ela realizou um ritual performático para ativar a memória da mata atlântica no campus da Universidade Federal da Bahia, aproveitou para estudar as águas que infiltraram e arruinaram a obra do prédio do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências professor Milton Santos, e finalizou sua visita com um banho no córrego de ondina, memória do rio que cortava a mata.

NEGRO é UM RIO

Entrei armada
o cabelo, o peito… quente, pesado.

Tropecei em migalhas de imagens e palavras sitiadas.
Mas insisto na dança
ora com o vulcão, desperto
ora como nascente, corro.
Não deito pro tempo deles
estou plantada,
pés firmes na lava da coragem, e desisto.

Desisto dos séculos, das figuras de "segurança" que se erguem em muros de segregação.
Desisto das ideias de "prosperidade" que cercam os lotes das propriedades.

Desisto de perseguir a ruína
é deles
a promessa de um horizonte utópico
erguido por uma legião de terráqueos
capazes de cercar tudo aquilo que tocam.

Desisto de tentar percorrer o caminho inequívoco da história,
embarco na travessia,
e a travessia
é sempre
uma porta sem retorno
nem linhas de chegada.

Desço da barca da promessa
então me banho
aceito que somos a recomposição do milagre,
negro é um rio
que caboclas e sereyas sabem navegar.